ATA DA CENTÉSIMA TRIGÉSIMA NONA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 30.11.1989.

 


Aos trinta dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e oitenta e nove, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Centésima Trigésima Nona Sessão Ordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias das Atas da Centésima Trigésima Oitava Sessão Ordinária; da Vigésima Sexta Sessão Extraordinária e da Qüinquagésima Sexta Sessão Solene, as quais deixaram de ser votadas em face da inexistência de “quorum” deliberativo. A seguir o Sr. Presidente informou que, em face de Requerimento, aprovado, do Ver. Valdir Fraga, o período de Comunicações seria destinado a homenagear a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre, pelos relevantes serviços prestado à comunidade pobre da nossa Cidade, e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Edi Morelli, representado o Dep. Sergio Zambiasi; Profª. Evany Meira Fernandes, Presidente da Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre; Srª Sandra Oliveira; Srª Dalila Marona Fernandes, respectivamente, 1ª Vice-Presidente e Tesoureira da Entidade homenageada; Major Leônidas Carvalho; Profª Alice Calero de Carvalho Maia, respectivamente, filho e irmã da fundadora da Entidade homenageada; Srª Maria Móttola, Presidente do Conselho da Entidade Assistenciais; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Casa. Após o Ver. Valdir Fraga, como proponente da homenagem e em nome da Bancadas do PT, PMDB, PFL, PSB, PCB, e PL, falou dos motivos que o levaram a propor o presente solenidade, discorrendo sobre o trabalho realizado por esta instituição. Lembrou os nomes das Senhoras Evany V. Fernandes, Sandra Oliveira Vieira, Alice Calero de Carvalho Maia e Dalila Morona Fernandes, integrantes da Entidade. O Ver. Vicente Dutra, em nome da Bancada do PDS, disse que a Sociedade União Pelotense São Francisco é um exemplo de caridade sem seu grau maior, agradecendo pelo trabalho por ela realizada. Destacou estar em andamento, na Casa, projeto que concede o nome de Lucia Callero de Carvalho Lopes a um logradouro público. A seguir, o Sr. Presidente registrou a presença, na Casa, do Sr. Firmino Carvalho, representando a Associação Riograndense de Imprensa. O Ver. Luiz Braz, em nome da Bancada do PTB, saudou a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula, falando da importância da assistência por ela oferecida às camadas mais carentes da população. Comentou o programa de rádio que já dirigiu, o qual visava a ajuda a essa população carente e que lhe permitiu um contato muito próximo com os problemas por ela enfrentados. E o Ver. Dilamar Machado, em nome da Bancada do PDT, disse ser a presente Sessão um momento de reflexão sobre a sociedade em que vivemos, na qual tantas vezes as pessoas não possuem sequer as condições mínimas para enterrar dignamente seus familiares. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Ver. Edi Morelli, que procedeu à leitura de correspondência enviada pelo Dep. Sérgio Zambiasi, relativo à presente solenidade; e a Srª Sandra Oliveira, que agradeceu, em nome da Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula, a homenagem prestada pela Casa. Após, o Sr. Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às quinze horas e três minutos, convocando os Srs. Vereadores para a Sessão Extraordinária a seguir. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão. Passamos às

 

COMUNICAÇÕES

 

Hoje esse período será destinado a homenagear a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre, da nossa Cidade. Esta homenagem foi requerida por este Vereador e aprovada por unanimidade da Casa.

Convido para fazer parte da Mesa: Ver. Edi Morelli, representando o Dep. Sérgio Zambiasi; Profª Evany Meira Fernandes, Presidente da Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre; Srª Sandra Oliveira; Srª Dalila Morona Fernandes, respectivamente, 1ª Vice-Presidente e Tesoureira da entidade homenageada; Major Leônidas Carvalho; Profª Alice Calero de Carvalho Maia, respectivamente, filho e irmã da fundadora da entidade homenageada; Srª Maria Móttola, Presidente do Conselho de Entidades Assistenciais.

Tenho ao longo dos meus 13 anos como Vereador nesta Casa, requerido talvez mais de uma centena de Sessões Solenes e espaços especiais para as mais diversas homenagens. Esta, entretanto, tem um significado muito especial para mim: receber, neste Plenário, o grupo de senhoras que dão continuidade à benemérita missão humanística de dona Lucila Calero de Carvalho Lopes, Ninfa Gugenheim, Célia Osório e Adelaide Soares. É resgatar uma dívida de gratidão que esta Cidade tem com a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre, há mais de 50 anos.

Se, hoje, as disparidade sociais se apresentam cruéis aos nossos olhos constrangidos por tanta miséria, nas primeiras décadas deste século a situação era muito pior. Naquele tempo – usando-se uma expressão popular – as pessoas realmente não tinham nem lugar para caírem morta. Os indigentes, para o seu enterramento, só contavam com um caixão que transportavam o corpo até o cemitério e voltava a ser utilizado em outro enterro. Não havia transporte, familiares e amigos, quando havia, transportavam o caixão nos ombros até a, ainda hoje, conhecida “Lomba do Cemitério”.

Foi então que o grupo de senhoras já citadas – todas oriundas da Cidade de Pelotas, daí o nome da entidade – reuniu-se e, chocadas com a maneira primitiva e anti-social como eram realizados os sepultamentos de pessoas pobres, fundaram a Sociedade Pelotense São Francisco de Paula. Desde então, o quadro mudou, os sepultamentos passaram a ser feitos de forma a, pelo menos, preservar a dignidade que todos o ser humana merece, na vida e na morte.

Posteriormente através da criativa campanha de angariação de fundos, foi adquirido um carro-fúnebre, mais tarde doado à Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Hoje, a Sociedade União Pelotense estende o seu trabalho relevante, além de Porto Alegre, também para os Municípios vizinhos, como Alvorada, Gravataí, Cachoeirinha, Viamão, Canoas, Esteio e outros mais.

Tudo isto feito quase de forma anônima, sem “grife”, sem o charme das colunas sociais, caridade no mais profundo sentido. Frase famosa: “fazer o bem sem olhar a quem”.

Aliás, além da homenagem merecida e com atraso, foi também a necessidade de divulgação da Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre, que nos levou a requerer este espaço, para que, com mais recursos, ela possa dar prosseguimento a sua nobre e imprescindível missão de levar até os menos favorecidos o atendimento material de que necessita para enterrar os seus mortos.

É uma Sessão diferente, realmente, e a população precisa saber, quando lê uma notícia de jornal dizendo que a “Santa Casa fez doação de urna funerária para sepultamento de indigentes...”, na realidade não é a Santa Casa o faz, mas sim a Sociedade União Pelotense, pois aquela instituição apenas faz o encaminhamento dos familiares da pessoa falecida à Sociedade Enterro do Pobre. Da mesma forma, agem o Governo do Estado, Prefeitura Municipais, Deputados e Vereadores.

Não posso negar que anos anteriores, encaminhava e não entendia bem o motivo, é porque diziam, quando precisar encaminha para a Sociedade Enterro do Pobre, e por isso que é muito bom esse nosso encontro, esta homenagem que as senhoras recebem, muitas devem estar dizendo, não queremos homenagens, somos anônimas, mas a Cidade precisa saber quem é quem. Muitas vezes, um Vereador, eu, no passado recorria à entidade, e, no fim, quem levava era o Sr. Valdir Fraga, sem saber o porquê. Acho que temos que colocar as cartas na mesa, e que não é bem assim, esse trabalho das senhoras, dos senhores, porque tem os senhores também, eles não estão na frente, mas estão ao lado das damas que fazem este trabalho maravilhoso.

Por tudo isso é que conclamamos a generosa comunidade de Porto Alegre, e aí estão os nossos jornalistas, fotógrafos, amigos também, e não é necessário colocar na coluna que o Vereador A, B, C, ou D fez um discurso, ou que solicitou esta homenagem. Não, é colocar o trabalho desta entidade à nossa comunidade.

Para finalizar em nome das Bancadas que aqui representamos, PDT, PT, PMDB, PFL, PCB, PSB, PL, gostaríamos de citar nominalmente as excelentíssimas senhoras que – elas não querem, mas eu vou citar, desrespeitando o pedidos das amigas, que trabalham com muito amor, muita garra, desprendimento e conseguem manter a Sociedade Enterro do Pobre, cujas despesas mensais são muito grandes, principalmente numa economia desorganizada e imprevisível, como é a do nosso Brasil, infelizmente, até aqui. Mas a gente está sempre torcendo para que melhore. Gostaria de agradecer, em nome da Cidade. Nosso muito obrigado pelo trabalho. Contem conosco, exijam de nós. Não é só contar exijam, pois, muitas vezes, a gente passa o dia-a-dia aqui, e não se dá conta do trabalho que as senhoras vêm desenvolvendo e até mesmo de outras entidades. Acordem-nos. Envolvemo-nos, aqui, de manhã à noite, às vezes ouve-se nos jornais e nas rádios que a política está tão desgastada, mas não é bem assim. Então, por isto, minhas amigas Evany Meira Fernandes, Sandra Oliveira, Alice Carvalho Maia e Dalila Morona Fernandes, e aquelas outras amigas cujos os nomes não estão aqui, que já dirigiram a entidade, não de hoje, nem de ontem, aquelas que já desapareceram, que não estão mais no meio de nós, mas que estão nos assistindo, tenho certeza: muito obrigado. Continuem com este trabalho. Acho que não há outro trabalho que possa substituir este. Existem muitos trabalhos anônimos, como as senhoras sabem, mas igual a este é difícil. Muito obrigado.

Gostaríamos de registrar a presença da Srª Maria Móttola, Presidente do Conselho de Entidades Assistenciais.

Com a palavra, o Ver. Vicente Dutra, que falará em nome da Bancada do PDS.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, minhas Senhoras e meus Senhores. A Casa vive hoje um momento importante dentro das atribuições que lhe compete pela lei e pela Constituição. Nós temos hoje o último dia para aprovar o Orçamento de 1990. Houve várias modificações na Constituição Federal, estamos a braços, também, estudando profundamente uma modificação no sistema tributário do Município e ainda paralelamente, como é sabido, estamos estudando uma nova Carta Orgânica para Porto Alegre. Então esta Casa fervilha, por todos os cantos, nervosamente, febrilmente, neste dia, porque é um dia fatal para a aprovação do Orçamento. Mas pela importância do evento que estamos homenageando, mas excepcionalmente, porque a Casa raramente realiza Sessões fora de horário, entendemos abrir este espaço para prestar uma homenagem a uma das entidades, como realmente bem destacou o nosso Presidente Valdir Fraga, que realiza um trabalho realmente extraordinário. Eu diria, sem me alongar, de que realmente a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre, realiza caridade na sua expressão maior. É uma caridade que se apresenta, a caridade visível, palpável, mas aquela caridade anônima, aquela caridade no momento mais necessitado e de profundo respeito à pessoa humana, embora a pessoa já não exista, esteja inerte, um corpo. Mas, diz a bíblia e repetido nos Evangelhos que temos que ter respeito, e por um gesto de caridade levar esta pessoa a sua última morada. Isto é um gesto de caridade de dimensões transcendentais.

Por isto, nós entendemos que fazer esta parada neste dia febril para dizer às senhoras e ao Major, ilustre filho da dona Lucila, todos aqueles enfim que colaboram com o Enterro do Pobre, o nosso muito obrigado, o nosso reconhecimento, o reconhecimento da Cidade de Porto Alegre, por tudo o que vocês fazem. Eu sou testemunha porque muitas vezes eu recorri ao Enterro dos Pobre para conduzir à última morada alguém, e uma família desesperada que não tinha recursos para proceder a última homenagem a alguém.

Os cumprimentos a estes gestos, a esta entidade “sui generis”, que realiza esta importante missão. É verídico, Sr. Presidente, aqui no guia universal de Porto Alegre que não temos ainda um logradouro público dando o nome de dona Lucila Lopes, a quem eu conheci pessoalmente, como homenagem eterna de Porto Alegre. Estão me informando neste momento que o Ver. Edi Morelli está providenciando. Então ficará corrigida esta lacuna com a iniciativa do atento ilustre Ver. Edi Morelli, concedendo a um logradouro público desta Cidade o nome de dona Lucila, e tenho certeza de que receberá o voto unânime desta Casa, numa homenagem a esta extraordinária senhora.

Eu a conheci pessoalmente – o Major deve recordar na época em que eu advogava para Cáritas e tinha a oportunidade de modestamente colaborar sobre alguns aspectos jurídicos para esta instituição. Eu o fiz com muita alegria e com a convicção de que estava fazendo algo muito bom.

Por isso o nosso muito obrigado a tudo o que vocês têm feito, e continuem com o entusiasmo e com o apoio unânime desta Casa por esta meritória obra de caridade que vocês realizam. Um abraço, muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Luiz Braz, que falará pelo seu Partido, o PTB.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes da Mesa, Senhores e Senhoras, eu vou ser bem rápido na minha intervenção desta tribuna, só que eu não poderia deixar, de forma alguma, de vir até aqui para trazer a minha saudação, em nome do meu Partido e também em nome também de todos os Vereadores que não conseguiram, por outros motivos estar presentes. Quando comecei a vida de comunicador de rádio dediquei a um tipo de comunicação que é aquela voltada para tentar auxiliar as pessoas menos favorecidas de minha terra. E descobri, com o passar do tempo, que o número de pessoas menos favorecidas é muito grande. E o programa, acho que até por isso mesmo, conseguiu, a exemplo de outros programas criados com estes mesmos objetivos, neste mesmo setor, como é o caso de um amigo nosso que está presente também e que foi um dos grandes comunicadores dessa terra com programas assim, Ver. Dilamar Machado. Descobri que audiência do programa se devia exatamente a que as pessoas se sensibilizavam com os problemas que eram apresentados no dia-a-dia. E esses problemas eram tantos e cada vez tão ocultos dentro da sociedade que as pessoas resolviam, de uma forma ou de outra, procurar ajudar aqueles casos que eram trazidos dentro do programa. Esse programa eu apresentava primeiramente na Rádio Caiçara, o Comando Geral; e posteriormente, na Rádio Farroupilha, o Comando Maior, quando a RBS comprou a Rádio Farroupilha, tirando-a das Emissoras Associadas. Eu iniciava, então, naquela época, 1972, na Rádio Farroupilha, um programa que depois iria ter um êxito monumental com a produção desse fabuloso líder, hoje, do nosso Partido, o PTB, Sérgio Zambiasi, que era o Comando Maior que foi iniciado por mim em 1972, quando fui para a RBS. Eu entrava em contato com as pessoas mais pobres da população, é incrível que na sociedade em que vivemos, existem pessoas que estão extremamente dentro daquela afirmação que a gente houve de vez em quando por aí: “Eu não tenho onde cair morto”. E, realmente, grande número de pessoas que procuravam o programa, e gora procuram o programa do Sérgio são assim: pessoas que não têm onde cair mortas. E por quê? Se morrerem não tem como serem enterradas. E os dramas que eu vivenciava juntamente com essas pessoas! Principalmente, quantos e quantos casos eu lembrava de pessoas que, muitas vezes, iam com um filho que havia morrido e não conseguiam enterrar o seu filho. E eu tinha que apelar para todos os setores da sociedade que estivessem dispostos a colaborar para que aquele drama pudesse ser resolvido. Mas este é um aspecto, apenas. Eu não vivia isto as 24 horas do dia; eu vivia isto alguns instantes do dia. O programa começava às 6 horas da manhã, ia até o meio-dia. E lembro que uma hora do programa era dedicada a este tipo de atendimento.

E eu disse, no início, que eu não poderia deixar de vir aqui para fazer minha saudação a esta entidade, porque esta entidade não vive só uma hora do dia cuidando deste aspecto. Esta entidade vive 24 horas do dia cuidando deste setor que deveria ser alguma coisa absolutamente normal dentro do Estado. Acho que as pessoas, morrendo, deveriam ter acesso naturalmente a um caixão e a um lugar no cemitério, onde pudessem ficar. Isto deveria ser alguma cosia normal. Mas, dentro da sociedade em que vivemos, não é normal; dentro da sociedade em que nós vivemos, uma pessoa que morre, se não tiver no bolso quantia superior a 5, 6 ou 7 mil cruzados, ela não consegue um enterro, nem mesmo o mais simplório. E cada vez a coisa está pior. E, dentro da crise que nós vivemos, quem é que consegue quantia como esta que falei, e que significam enterro muito simples. As pessoas estão sempre devendo, e devendo muito. As pessoas não têm o que comer, não têm como se manterem vivas, como é que podem programar a morte. Então esta entidade, que é vital, porque ela está em contato com as camadas mais necessitadas, com aquele que não têm realmente meio de sobreviver, com aquelas pessoas que se não fossem atendidas por essa sociedade, estariam talvez, com os seus restos mortais apodrecendo, até contaminado os vivos que estão espalhados pelo mundo. E quando não se tem mais para quem apelar, para quem é que se apela? Exatamente para o Enterro dos Pobres. Eu conhecia, e me desculpem as senhoras, conhecia só pelo nome de Enterro dos Pobres. Quando eu li o pedido do Ver. Vicente Dutra, para homenagear a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre, fiquei sensibilizado e me recordei-me de todos os problemas que nós vivenciamos. Então solicitei que, no dia desta homenagem, eu pudesse estar presente aqui nesta tribuna, para dizer, em nome de todas aquelas pessoas pobres que já atendi tantas vezes: muito obrigado a todas as Senhoras e a todos os Senhores. E eu tenho certeza de que vou ser um pouquinho maior no dia em que puder também ajudar as Senhoras, assim como as Senhoras ajudam a beneficiar essa camada da sociedade que, infelizmente, nos últimos tempos, está cada vez mais apertada para dentro da terra. Muito obrigado, Senhores, em nome de toda a sociedade. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Dilamar Machado, em nome da Bancada do PDT.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente Srs. Vereadores e Senhoras presentes. Procurarei ser muito breve, muito objetivo, nesta homenagem que o Ver. Valdir Fraga propõe ao Enterro do Pobre, e começar pela lembrança de um episódio sociológico deste País, pelo semblante de todos nós nesta reunião, porque ela não tem nada de festiva, ela é uma reunião de profunda reflexão sobre a sociedade em que vivemos. Quando, no auge da resistência à escravidão, Zumbi dos Palmares reuniu seus guerrilheiros, quase às vésperas de uma batalha em que muitos negros foram mortos pelos capitães de mato, um dos negros guerreiros do Quilombo dos Palmares ria em meio a conversa do Zumbi, ele como líder parou, olhou para aquele negro risonho e disse: “só quem não sabe das coisas é um homem capaz de rir”. Há horas na vida em que é difícil rir, é preciso refletir e uma das mais duras verdades da nossa existência, especialmente desta sociedade destorcida em que vivemos, em que a morte é a mais trágica das verdades e a morte só nos é pesada e se apresenta com toda a sua dimensão dolorosa e trágica, quando ela nos leva alguém do nosso lado: pai, filho, irmão, um amigo querido, uma pessoa que faz parte do nosso cotidiano. Imaginem a dureza, a imensidão da tristeza da morte quando se abater em um lar humilde e miserável, como tantos milhares de lares miseráveis que existem nestas grandes cidades, nestas grandes metrópoles, nestas tristes regiões metropolitanas. A tristeza de uma mãe ao ver o filho morto e não ter o recurso mínimo para sepultá-lo, ou o marido, ou a mãe, o a irmã ou o amigo. Conheci dona Lucila e o Major Leônidas, há mais de 20 anos, pelos idos de 1967, 1968, quando, lembrava o Ver. Luiz Braz, apresentava na Rádio Gaúcha o programa “Vozes da Cidade”, e foi exatamente no momento em que uma mãe desesperada chegou no microfone da Rádio Gaúcha e narrou com a dureza, com a simplicidade, mas a autenticidade quem se sente deprimido e miserabilizado, estava há mais de 24 horas com o cadáver de uma filha no sepulcro, ali próximo da residência do Ver. Valdir Fraga, próximo ao Bairro Vila Nova. Naquele dia, conheci de perto não só o trabalho, mas o carinho da dona Lucila, cuja lembrança trazemos hoje nesta homenagem como fundadora da Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula, e como uma figura humana singular que deixou raízes tão profundas, e que todas as Senhoras que estão aqui presentes têm no coração e na mente muito da luta de dona Lucila, e da seqüência de luta do Major Leônidas, hoje simbolizada pela liderança da Professora Evany. A partir dali, passei a dar o respeito que merece esta entidade.

Não quero repetir a palavra “caridade”, acho que o Enterro do Pobre tem uma atitude de dignidade humana ao assumir um compromisso, que é de todos nós, com nossos irmãos desprovidos, abandonados. Claro que este País seria muito melhor se não precisássemos desse tipo de trabalho, mas acredito, Major Leônidas, que um dia teremos um País melhor e que a lembrança deste trabalho faça parte de um momento épico da vida brasileira. Gostaria, ao encerrar esta homenagem que faço com emoção e reconhecimento a essa entidade, gostaria de dizer que os Vereadores desta Casa que se manifestaram e os que estão nos assistindo, bem como os funcionários da Casa, têm uma maneira muito objetiva de participar desse trabalho. A Dalila é a tesoureira, ela vai visitar nossos gabinetes, já visitou o meu, e já dei a minha autorização para que o meu gabinete, mensalmente, participe com uma determinada quantia para o Enterro do Pobre. É uma obrigação nossa, temos condições, e um pouco de cada um vai ajudar a formar o bolo que esta entidade precisa para atender, anonimamente, todas as pessoas que a ela recorrem. Desconheço que, algum dia, uma família pobre tenha batido à porta da Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – Enterro do Pobre, e não tenha resolvido o seu problema. Então, a maneira que temos de ajudar, enquanto o País está nesta situação, enquanto precisamos que entidades como esta estendam a mão à pobreza e a miséria na hora mais aguda e triste, precisamos participar ajudando financeiramente. Um pouquinho de cada um dará o muito, junto com tantas outras famílias que ajudam, inclusive as próprias Senhoras que fazem parte desta entidade, muitas vezes, tiram dos seus próprios recursos para resolver um problema emergencial. Precisamos, mais do que homenagear, ajudar o Enterro do Pobre. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Edi Morelli, que vai ler a correspondência que Dep. Sérgio Zambiasi encaminhou.

 

O SR. EDI MORELLI: Sr. Presidente, Senhoras; Senhores; Senhores Vereadores. Sentia-me já numa situação difícil, porque fui incumbido pelo Dep. Sérgio Zambiasi de representá-lo neste momento. E ele me dizia: já tenho o discurso pronto, alguém vai te levar. O discurso não chegava, chegou agora. Já me sentia em dificuldade em expressar o que o Dep. Sérgio Zambiasi queria expressar.

Mas de minha parte, conheço o Enterro do Pobre há mais de 17 anos, quando ao lado, também, de um ilustre Vereador desta Casa, também um ex-colega de microfone, do qual com muito orgulho fui repórter durante muito tempo, e muito aprendi com ele, Dilamar Machado. Já, naquela época, tinha a Rádio Farroupilha, os Diários associados. Conheci a entidade Enterro do Pobre e foi colocado aqui, pelo Líder de minha Bancada desta Casa, o Ver. Luiz Braz, a estranheza quando tomou conhecimento do nome. Confesso, também, que fiquei sabendo o nome da entidade há questão de três semanas atrás, no máximo.

Também queria dizer às Senhoras presentes, aos Srs. Vereadores, que já tramita na Casa, Projeto de Lei dando o nome de um logradouro público àquela que fundou a entidade Enterro do Pobre.

Mas, falando pelo Dep. Sérgio Zambiasi, começa por um bilhete que ele recebeu, dizendo que o Enterro do Pobre esteve em uma situação de quase fechamento, por falta de verbas, mas que esta situação não existe mais, mas que é preciso que todos nós nos unamos, porque a coisa não pára, e o material sobe a cada dia.

Diria o Dep. Sérgio Zambiasi.

“Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, Deus ensina que o amor é a palavra chave em nossa existência. Lamentavelmente, porém, a maioria dos seres humanos ainda não encontraram a luz, o caminho que nos conduz ao amor, durante a vida e, principalmente, na hora da morte.

Bom seria que os homens, em sua totalidade, convivessem sempre no amor. Mas vivemos em um mundo maravilhoso, paradoxalmente mergulhado em guerras. Guerras de egoísmo, de ganância, de preconceitos. Há permanentes jogos de interesses. Quem pode mais, quem tem mais, sempre vence. Os menos afortunados, os carentes ficam marginalizados. E, em sua humildade, pedem constantemente, pelo menos um pouco de amor, através de um tratamento digno e humano. Vemos diariamente cenas chocantes de exploração, praticadas pelas indústrias da vida e da morte. Sim, porque enquanto a pessoa vive é explorada permanentemente por outrem, e, quando acontece a sua morte, torna-se um objeto de exploração, por parte da ciência funerária que, com raríssimas exceções, tratam de um funeral com total insensibilidade junto aos parentes do morto, pensando única e exclusivamente em auferir lucros fabulosos.

Uma tragédia é sinal de alegria aos agentes funerários. É uma triste realidade, neste mundo de desamor ao próximo. Quando a pessoa falecida tem posses ou possui parentes e amigos em boa situação financeira, os trâmites junto aos chamados ‘papa-defuntos’ são curtos e objetivos. Mas, quando o morto é uma daquelas pessoas desassistidas pela sorte, a maratona para o sepultamento é dolorosa e sofrida. Os corretores funerários são implacáveis e chegam a transmitir a impressão de serem robôs, tal é a sua insensibilidade. O preço de um funeral é exorbitante, e mesmo o chamado enterro de terceira é muito caro para quem nada tem.

Por este e por outros motivos foi que, em 1934, um grupo de cinco senhoras pelotenses fundou a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – o Enterro do Pobre, como é conhecida; entidade de utilidade pública, sem fins lucrativos, que propicia ao carente falecido – criança ou adulto – um sepultamento digno, cristão, e sem ônus para a família enlutada. O caixão, carro fúnebre e a tumba para o sepultamento são fornecidos por esta entidade que há 55 anos presta serviços à comunidade gaúcha.

Até 1934, utiliza-se, para sepultar o miserável em Porto Alegre, um único caixão que levava o corpo até o cemitério jogavam-no na tumba, tapavam-no com terra fria. E o mesmo caixão era reaproveitado por um ano inteiro, até por dois ou três anos. Por causa dessa situação vexatória para nós, seres humanos, essas senhoras corajosas pelotenses, que iniciaram essa luta há 55 anos, fundaram a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula – o Enterro do Pobre, em benefício daqueles que nunca tiveram voz.

Por sua diretoria passaram pessoas inesquecíveis, como a Drª Lucila Callero de Carvalho Lopes, uma das cinco fundadoras, que exerceu a presidência por mais de 20 anos, falecida em 1988. Anteriormente, Resoleta Bezerra, falecida em 1978. Também vale lembrar a inesquecível Srª Oscarina Damásio, que faleceu no início deste ano.

Após muita luta, passamos momentos de imensa dificuldades, com ameaça de fechamento por falta de verba, a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula hoje possui sede própria e até um carro fúnebre, que adquiriu e deu para a Prefeitura de Porto Alegre, em regime de comodato.

Reconhecida de como utilidade pública federal, estadual e municipal, igualando-se à Santa Casa, com este privilégio, o Enterro do Pobre continua enfrentando dificuldades, devido ao permanente aumento de preços das matérias primas. Mas a valorosas senhoras pelotenses nunca esmorecem e continuam lutando por seu ideal, promovendo campanhas junto à comunidade rio-grandense, e angariando fundos que lhes permitem prosseguir amparando, com muita dignidade, os menos favorecidos.

Assim, vislumbrando neste horizonte de muito amor que existe, neste momento, nesta Casa Legislativa, entre tantos irmãos, as Sras Evany Meira Fernandes, Sandra Badia Oliveira, Dalila Fernandes, Diva Costa, Clélia Pitres e Selma Oliveira, da atual Diretoria da Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula, convoco todos os Srs. Vereadores desta Casa, as demais pessoas presentes, para junto comigo formarmos uma corrente de apoio integral, numa união de forças, auxiliando esta tão cara instituição que vem prestando relevantes serviços à comunidade gaúcha, já por mais de meio século.

Foi Deus que iluminou as cinco fundadoras da Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula. É Deus que nos dá luz e energia para que esta instituição siga sendo prestigiada por toda a sociedade sul-rio-grandense. Muito obrigado!”

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, a Srª Sandra Oliveira.

 

A SRA. SANDRA OLIVEIRA: Ilmo Sr. Presidente da Câmara de Porto Alegre, Ver. Valdir Fraga, Srs. Vereadores, nossos amigos. Este é um dos acontecimentos da mais alta e vibrante significação, ao mesmo tempo, de júbilo e alegria para a Sociedade União Pelotense São Francisco de Paula. A Câmara de Vereadores de Porto Alegre homenageia o Enterro do Pobre. É o reconhecimento pelo esforço de 55 anos, realizado por um grupo de senhoras pelotenses que, com muita coragem, dedicação, mas sobretudo, com amor, conduziram ao engrandecimento a nossa entidade, que presta relevante serviço à comunidade porto-alegrense menos favorecida. Queremos dedicar esta homenagens às diretorias que nos antecederam, dedicando-a a todas as companheiras que trabalham, nas pessoas das saudosas amigas Lucila Lopes, fundadora e Presidente por mais de 20 anos, e Oscarina Damásio, lutadora e defensora dos interesses da sociedade. São acontecimentos como este que premiam a missão que realizamos e nos incentivam a prosseguir trabalhando para o crescimento da nossa entidade e da comunidade porto-alegrense.

Obrigada à Câmara de Vereadores, obrigada ao amigo Valdir Fraga e aos nosso amigos, obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: As lágrimas são sinal de amor, paixão pela causa. Isto é muito bom. Tem que ter esta paixão, senão não vale a pena a gente estar, inclusive, neste mundo. E por isso que cumprimentamos todos os associados, colaboradores, direção atual, direção anteriores, que, até aqui, conseguiram manter firme este palanque da Sociedade Pelotense.

Agradecemos a presença da Profª Evany Meira Fernandes, da Srª Sandra Oliveira, da Srª Dalila Fernandes, Major Leônidas Carvalho, da Profª Alice Maia, da Srª Maria Móttola. E assim encerramos os trabalhos, agradecendo a presença de todos, com os nosso cumprimentos.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h03min.)

 

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